Manter o calendário de vacinação em dia, não compartilhar materiais perfurocortantes e usar preservativos ajudam a prevenir algumas formas das doenças
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Hepatites virais são doenças do fígado caracterizadas pela inflamação do órgão e causadas por cinco tipos principais e diferentes de vírus (nomeados das letras A a E). A maioria delas tem cura e é possível se recuperar plenamente a partir de cuidados precoces!
Você sabia que os agentes virais das hepatites podem atuar silenciosamente durante anos, sem que o indivíduo manifeste qualquer sintoma?
Por isso, o diagnóstico e o tratamento junto ao médico hepatologista são determinantes para salvar vidas e devem ser feitos quanto antes.
Segundo o Ministério da Saúde, foram notificados 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil entre 2000 e 2021. Desse quantitativo, são casos de:
- Hepatite A: 168.175 (23,4%)
- Hepatite B: 264.640 (36,8%)
- Hepatite C: 279.872 (38,9%)
- Hepatite D: 4.259 (0,6%)
No combate a essas doenças, a informação é caminho importante para controlá-las. Por isso, leia o material que preparamos até o fim!
Conheça os aspectos mais relevantes sobre as hepatites, como formas de transmissão, sintomas, tratamentos e maneiras de prevenção.
Boa leitura!
Hepatite A
Infecção por hepatite A tem relação com alimentos impróprios para consumo
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Hepatite A é uma infecção provocada pelo vírus A da hepatite (HAV). O vírus replica-se no fígado, é excretado na bile e depois eliminado nas fezes.
A incidência de hepatite A no Brasil, de acordo com cartilha da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), é maior em crianças menores de dez anos de idade.
De todos os quadros notificados no país entre 2003 e 2018, os casos nessa faixa etária correspondem a 55%.
Formas de transmissão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a transmissão da hepatite A ocorre pela via fecal-oral. Isso significa que a contaminação é por meio do contato de fezes com a boca.
Assim, a doença tem estreita relação com:
- alimentos ou água não seguros para consumo;
- baixos níveis de saneamento básico;
- baixos níveis de higiene pessoal.
Esse tipo de transmissão é facilitado por conta da estabilidade do HAV no meio ambiente e da grande quantidade de vírus presente nas fezes das pessoas infectadas.
Outras formas de transmissão podem acontecer a partir de contatos pessoais próximos, entre moradores da mesma casa, pessoas em situação de rua ou entre crianças em creches.
Contatos sexuais, principalmente práticas de sexo oral-anal, também podem ser vias de transmissão, apesar de ser rara essa forma de contágio.
Sintomas
Conforme a SBH, a infecção por hepatite A costuma ser assintomática ou se manifestar como outras viroses, com sintomas como febre, diarreia, vômitos, dor de cabeça e enjoos.
Os pacientes também podem apresentar, em casos mais graves, olhos e pele amarelados (icterícia), urina escura e dor abdominal.
Os quadros que evoluem para a forma fulminante, com necessidade de transplante de fígado, são raros. Além disso, não existe evolução para hepatite crônica ou cirrose.
Tratamentos
Não existem tratamentos específicos para hepatite A. A cura geralmente ocorre de forma espontânea. Esse tipo de doença apresenta apenas formas agudas de hepatite, ou seja, o indivíduo pode se recuperar e eliminar o vírus de seu organismo.
Manter uma dieta balanceada, evitar a automedicação e repor fluidos, em casos de sintomas como vômitos e diarreia, são recomendações médicas que contribuem para prevenir quadros graves.
Prevenção
Medidas básicas de melhorias na estrutura de saneamento e higiene, como lavar bem as mãos e alimentos, contribuem para a prevenção da doença. A vacina também é uma medida eficaz.
Hepatite B
Vacina é fundamental para prevenir a hepatite B (Foto: Freepik)
Essa hepatite é causada pelo vírus da hepatite B (HBV). A doença pode evoluir para quadros mais graves e formas crônicas. A vacina é uma aliada fundamental na prevenção.
Formas de transmissão
O vírus da hepatite B é transmitido de uma pessoa para outra por meio do contato com fluidos corporais, como saliva e sêmen.
Além disso, a hepatite B também pode ser transmitida por meio de:
- Transfusão;
- Compartilhamento de objetos contaminados;
- Utensílios para colocação de piercing e confecção de tatuagens;
- Instrumentos para uso de drogas injetáveis e inaláveis;
- Acidentes perfurocortantes, procedimentos cirúrgicos e odontológicos e hemodiálises sem as adequadas normas de biossegurança.
O uso de objetos não esterilizados que apresentam risco inclui alicates e lâminas de barbear comumente utilizados em salões de beleza. Por isso, atenção!
Sintomas e riscos
Após entrar em contato com o vírus da hepatite, o paciente pode desenvolver um quadro de doença aguda, apresentando formas clínicas assintomática ou sintomática.
No primeiro caso, as manifestações estão ausentes ou são leves e atípicas, simulando um quadro gripal ou de outras viroses quaisquer. No segundo, a apresentação conta com sinais e sintomas característicos da hepatite, como febre, icterícia e urina escura.
A fase aguda tem seus aspectos clínicos e virológicos limitados aos primeiros seis meses da infecção. A persistência do vírus após este período caracteriza a forma crônica da doença.
Como enfatiza a cartilha da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, somente os vírus B, C e D têm potencial para desenvolver formas crônicas de hepatite.
Prevenção
Em relação à prevenção da hepatite B, a melhor estratégia é a vacina. As doses são disponibilizadas nas salas de vacinação de todo o país. De acordo com o Ministério da Saúde, elas são altamente eficazes e devem ser aplicadas com esquema completo para ter a máxima eficiência.
Além disso, é importante não compartilhar objetos perfurocortantes e não passar por procedimentos invasivos sem os devidos cuidados de biossegurança.
A prevenção também consiste em não compartilhar escovas de dentes ou lâminas de barbear e depilar e usar camisinha nas relações sexuais.
Tratamento
A hepatite aguda B costuma ter bom prognóstico, com a infecção sendo resolvida em cerca de 90% a 95% dos casos. As exceções ocorrem nos casos de hepatite fulminante, hepatite B na criança e pacientes com algum tipo de imunodeficiência.
Para os pacientes que não se livram do vírus e tornam-se portadores crônicos – com a possibilidade de evoluírem para quadros de cirrose – ainda não existem remédios capazes de curar a doença.
Os fármacos disponíveis, contudo, contribuem para o controle da carga viral e, consequentemente, da evolução do problema.
Vale lembrar que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza testes rápidos para hepatite B e C. Por meio de uma gota de sangue, é possível identificar a presença da infecção. A recomendação da OMS é que todos façam os testes uma vez por ano.
Um dado curioso e importante sobre a hepatite B é que, mesmo as pessoas que são consideradas “curadas”, continuam carregando o código genético do vírus dentro do núcleo das células do fígado, podendo ter reativação do vírus em caso de diminuição da imunidade.
Por isso, dizemos que a hepatite B não tem cura real. Dessa forma, todas as pessoas que tiveram hepatite B no passado, devem manter acompanhamento médico regular, com análise dos exames do fígado de forma periódica.
Hepatite C
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De acordo com dados do Ministério da Saúde, as mortes por hepatite C são as mais comuns entre as do tipo viral. Foram identificados 62.611 mortes decorrentes da hepatite C (76,2% do total por hepatites virais) entre 2000 e 2020.
As hepatites B e C são as principais causas de cirrose hepática, doença hepática crônica e carcinoma hepatocelular (câncer).
Formas de transmissão
As formas de transmissão da hepatite C são similares às da hepatite B, mas com maior risco de transmissão através de contato com sangue contaminado.
Sintomas e riscos
As manifestações clínicas e sintomas em casos de hepatite C são similares àquelas de hepatite B.
Para o vírus C, a taxa de cronificação, ou seja, as chances de evoluir para forma crônica da doença, varia entre 60% a 90% e é maior em função de alguns fatores do hospedeiro, tais como:
- sexo masculino;
- imunodeficiências;
- ter mais de 40 anos.
Tratamentos
Em relação à hepatite C, os medicamentos disponíveis são altamente eficazes, com poucos efeitos colaterais e uma taxa de cura da doença maior que 95%.
Prevenção
As formas de prevenção para essa doença são similares às da hepatite B.
Hepatite D
Tratamento contra Delta deve ser realizado por serviços de referência (Foto: pressfoto/Freepik)
A hepatite D, também conhecida como Delta, é causada pelo vírus HDV.
Formas de transmissão
O vírus Delta é incompleto e não consegue, por si só, exercer sua ação
patogênica e se replicar nas células hepáticas. Assim, de acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, necessita da presença do vírus B.
Existem, portanto, duas possibilidades para a ocorrência da infecção pelo HDV:
- Superinfecção: infecção pelo vírus Delta em um portador crônico do HBV;
- Coinfecção: infecção simultânea pelo HBV e Delta em indivíduo suscetível.
Sintomas
Os sintomas são os mesmos das hepatites B e C. A taxa de cronificação do vírus D varia conforme aspectos ligados ao tipo de infecção (coinfecção ou superinfecção) e da taxa de cronificação do HBV.
Tratamentos
O tratamento da hepatite Delta é complexo e, na maioria das vezes, conta com resultados insatisfatórios. Os cuidados devem ser realizados por serviços de referência (alta complexidade).
Prevenção
A hepatite D é mais comum na região amazônica. Para infectar um indivíduo, o vírus responsável pela transmissão da doença depende da presença do vírus do tipo B. Assim, as características gerais entre as duas hepatites são parecidas.
Hepatite E
Hepatite E pode ser mais grave em gestante (Foto: vgstockstudio /Freepik)
A hepatite E é causada pelo vírus HEV.
Formas de transmissão
As formas de transmissão da hepatite E são semelhantes às da hepatite A. Isso significa que a via principal de contágio é a fecal-oral.
Sintomas e riscos
Apesar de incomum, já existem relatos de evolução da hepatite E para formas crônicas ou persistentes. Em gestantes, a doença pode ser mais grave e apresentar formas fulminantes.
A taxa de mortalidade em mulheres grávidas pode chegar a 25%, segundo dados da cartilha da Secretaria de Vigilância em Saúde, especialmente no terceiro trimestre – mas pode ocorrer em qualquer período da gestação. Há também referências de abortos e mortes intra-uterinas.
Tratamentos
A hepatite E não possui tratamento específico, podendo ser usada a ribavirina em algumas situações específicas.
Assim, o recomendado é ficar de repouso e beber bastante líquido, além de garantir melhor condições de saneamento e higiene, especialmente no que diz respeito ao preparo dos alimentos.
Prevenção
Não existe vacina para hepatite E. No entanto, assim como para hepatite A, a adoção de melhoria da rede de saneamento básico e de hábitos de higiene – como a lavagem regular dos alimentos consumidos crus e das mãos e a limpeza de pratos, copos e talheres – são formas importantes de prevenir a contaminação pela hepatite E.