A coceira na gravidez é um sintoma comum e ele aparece por diversos motivos.

Como a mulher está passando por muitas mudanças, este é um sinal que pode causar preocupação e gerar dúvidas.

Geralmente, as causas mais comuns de coceira na gravidez ocorrem devido ao estiramento e ressecamento da pele, mas é sempre importante ficar atento, pois existem condições mais raras que podem ser perigosas ao bebê.

Uma delas é a colestase gravídica. Esta condição pode acometer até 4% das mulheres latino-americanas, sendo a causa mais comum de doença hepática associada à gravidez.

A colestase gestacional é caracterizada por:

  • Coceira (prurido) no terceiro trimestre da gestação
  • Níveis elevados de ALT (uma enzima do fígado)
  • Ausência de outras causas de disfunção hepática ou prurido

Por que ocorre Colestase na gestação?

Alguns fatores de risco para colestase gestacional são idade materna > 35 anos, multiparidade, história de uso de anticoncepcional oral, história de tratamento feminino para infertilidade e história de colestase em gestações anteriores.

Aproximadamente 25% das mulheres afetadas tem mutações genéticas nos transportadores dos sais biliares (ABCB4, ABCB11 e ATP8B1). Mas colestase gestacional pode se desenvolver como consequência de diversos processos patológicos, não devendo ser considerada uma entidade única. Também está associada a doenças colestáticas, autoimunes e até hepatite C não diagnosticadas previamente.

No fígado da gestante, o que ocorre é uma dificuldade de secreção de sais biliares por transportadores de membrana da célula do fígado, devido a alta concentração de estrógenos na gestação. Essa alteração ocasiona elevação das enzimas hepáticas, especialmente da ALT/TGP, associada a uma maior concentração de ácido biliares no sangue.

Quais são os sintomas da Colestase gestacional?

O principal sintoma da colestase gestacional ou gravídica para a mãe é uma coceira intensa que em geral começa nas plantas pés e palmas das mãos, mas pode se espalhar pelo resto do corpo. A coceira pode ficar mais intensa à noite.

Os sintomas incluem também:

  • Icterícia – pele e olhos amarelados- ocorre em 30% das gestantes com colestase gestacional, sendo geralmente leve ;
  • Fezes claras e urina escura;
  • Cansaço excessivo e mal estar;
  • Náusea e falta de apetite;
  • Também pode ocorrer a formação de pequenas bolinhas na pele. 

Se você estiver com os pés e mãos coçando muito na gravidez, o primeiro passo é alertar o seu obstetra.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado através do quadro clínico, dosagem de enzimas hepáticas e do nível de ácidos biliares no sangue.

Quais são os riscos para o bebê?

A colestase pode causar problemas para a saúde do bebê devido ao acúmulo de sais biliares na placenta, que podem ocasionar um parto prematuro e comprometer a redução da troca de oxigênio entre a mãe e o feto.

Como a bile está acumulada no corpo, a bilirrubina, substância presente nela, pode invadir o líquido amniótico.

Neste caso, o bebê pode respirar a substância e desenvolver problemas pulmonares. O feto também pode sofrer e ter redução dos movimentos e dos batimentos cardíacos. 

Pode ocorrer ainda a morte do feto no último período da gravidez, por isso, o parto pode ser adiantado. 

Existe tratamento?

O medicamento ácido ursodesoxicólico deve ser considerado para tratamento da coceira da gestante com colestase gravídica e para reduzir o risco de parto prematuro e morte fetal, especialmente quando a concentração de ácidos biliares no sangue fica muito elevada (> 40 mmol/L).

Além disso, mulheres com colestase gestacional devem manter um acompanhamento rigoroso com o obstetra e hepatologista, especialmente após 32 semanas de gravidez, para decisão do momento mais adequado de interrupção da gestação.

E após o parto, devo ter algum cuidado?

Uma característica marcante da doença é que os sinais e sintomas da colestase gestacional geralmente desaparecem espontaneamente dentro de 6-12 semanas após o parto.  Caso as alterações nos exames de sangue permaneçam após esse período, deve ser investigada outras doenças hepáticas. Mulheres que tiveram colestase gestacional são de maior risco de ser diagnosticadas com doenças hepatobiliares ao decorrer da vida, necessitando de monitoramento.

Se você tem ou teve colestase gestacional, não deixe de agendar uma consulta com hepatologista.